Saturday, August 29, 2015

32 F

Um acumular de verbos teimosos faz parte de qualquer escritor. Quer seja um veterano de uma guerra drástica com a munição do seu léxico, ou um mero faz-de-conta como eu. A real diferença é que este nunca foge de um desafio apocalíptico em que, sobre pressão, é levado a construir um emaranhado de ideias soltas e irracionais. Tudo começa com a vontade, sempre vazia, da qual teimo em encher com o que invariavelmente culminará num caos de nada. O nada é sempre mais simples, sempre mais puro, sempre mais óbvio. Não complico porque sou complicadamente linear, de fácil leitura e de óbvia percepção. Apaixonar-me é o limite, a barreira invisível que me arrasta para o lado dos vivos, dos desapaixonados e dos racionais. Não sou um anormal, embora me atraíam os renegados da sociedade, os que buscam no nirvana uma ligação espiritual com o mundo intermédio. Adoro o frio, o calor faz-me mal, deixa-me sem ar, aumenta os meus batimentos. O gelo queima suavemente mas leva a que tudo passe mais lentamente – quer bom quer mau. Sou repentino, como este texto que culmina agora. O objectivo era marcar, não pela diferença. Apenas marcar.