Tuesday, October 27, 2009

Filosofias


“Sou o que sou”. Sempre achei esta expressão um cliché de muito mau gosto, um pouco como o vulgar “Quem espera sempre alcança” ou o “Quem espera desespera”. Todos sabemos que esperar é inútil, alcançar algo é surreal e desesperar é algo intrínseco ao idiota do Ser Humano. Somos o que somos porque somos diferentes mas iguais. Diferentes geneticamente, mas iguais na parvoíce e ignorância que é viver. Passamos as nossas vidas numa infindável e ambiciosa busca por algo que não existe: a compreensão. Seguimos pela vida sendo simpáticos porque pensamos que a amizade é a salvação dos nossos problemas e que estes realmente se importam connosco. Passamos anos escondidos na nossa timidez em vez de arriscar falar com a moça de quem gostamos, para, anos depois, sabermos que ela afinal também gostava de nós. Não brigamos porque não queremos confusões, não bebemos porque não queremos ir para o hospital, não fumamos porque não queremos ficar alucinados, não rimos porque gozam de nós. Vivemos num mundo de moralidades descabidas e não passamos de máquinas imperfeitas. Aliás, não somos máquinas porque sentimos e sentir é ser FRACO. Gostar deixa-nos fracos, irracionais e distraídos com o mundo. Ficamos com a egocêntrica sensação de que tudo gira à nossa volta e que tudo é perfeito numa encenação multimilionária enfeitada pela nossa mente. Eu próprio sou fraco, porque penso, porque sou diferente do resto do mundo e questiono tudo e todos. Sou honesto, directo e conveniente. Sou o que sou porque gosto de sê-lo e mereço ser assim. O resto são distracções.

Wednesday, October 21, 2009

Saudades


Tenho saudades dos teus olhos quando brilham ao luar
Tenho saudades do teu riso que perfuma o meu ar
Tenho saudades da tua face clara como o dia
Tenho saudades do teu cabelo rebelde quando o via

Tenho saudades da tua alma que protege o meu ser
Tenho saudades do teu carinho mesmo sem o ter
Tenho saudades da tua mente rica em saber
Tenho saudades daquela estrela que só tu sabes ver

Tenho saudades das palavras que sobre ti insiste
Tenho saudades do silêncio que em ti persiste
Tenho saudades da harmonia das tuas melodias
Tenho saudades de pensar nas tuas romarias

Tenho saudades de dizer tudo o que eu quero
Tenho saudades de saber que por ti espero
Tenho saudades de sonhar noites acordado
Tenho saudades de viver assim atrapalhado

Tenho saudades de ter saudades tuas
Tenho saudades de ver aquelas luas
Tenho saudades de saudades de saudades de si
Tenho saudades nina, estou triste sem ti.

Tuesday, October 13, 2009

Melodia

O som da tua voz no silêncio do meu quarto
A melodia silenciosa no momento em que parto
A perfeição desajeitada com que praticas o teu culto
Claustrofobia consistente com o vazio do meu vulto

Tropeço no acorde monocórdico do instrumento
Instantâneo e envolto na melancolia do momento
As histórias eternas cobertas de moralidades
As filosofias imprevistas e as tuas veracidades

A complexidade subjacente em que tudo é tão certo
A simples revolta de não te ter aqui tão perto
Os teus olhos penetrantes na inocência que só tu és
Os cabelos enlaçados que percorrem o revés

No início da clausura destas letras encantadas
Pela luz daquelas estrelas sempre tão pautadas
Pondero serenamente os dilemas que eu quis
Talvez possa dizer que ao pensar em ti eu sou feliz.

Thursday, October 08, 2009

Preâmbulo

Não confio nas palavras. São demasiado fáceis. São facilmente conquistadas, são profundamente telepáticas. Metem nojo quando ditas por ignorantes e dão saudades quando são ditas por ti. Juntas causam ainda mais espanto e nostalgia do que sozinhas. São nasais mas também fluidas. De qualquer forma são o que são e por existirem metem respeito mesmo que grande parte delas sejam irrelevantes. Quando não as usamos ficamos constrangidos e irrequietos. Ao não as proferir definem-nos de amuados, hipócritas, antipáticos ou até psicopatas, mas se as dissermos somos irracionais, insensíveis e estranhos. Na nossa essência não conseguimos estar calados, então falamos pelos cotovelos. Quando ninguém suporta ouvir-nos, falamos sozinhos, para nós mesmos, ou até para insanos amigos imaginários.
De igual forma, não confio nos sentimentos. Talvez mais do que não confio nas palavras. Ambas estão ligadas e ambas nos deixam num estado de êxtase picuinha, logo ridículo, lamechas e irreal. O que me salva é que falo muito, logo faço parte do grupo dos insensíveis e irracionais, jamais no dos hipócritas.