Saturday, December 11, 2010

Onde está o Sr. Farinha?

- Roubaram a farinha! - balbuciou o agente Chaleira, estupefacto pelo enigma em causa.

Desde que foi promovido do departamento da mesinha de crianças que este perspicaz e tenacioso agente de autoridade não havia presenciado tal angustiante ocorrência.

- Não é possível! - retorquiu o pançudo, mas não menos suculento, Rei Chocolate que, ao saber desta notícia, quase que perdia metade das suas calorias.

No reino das farturas, tudo funciona como um relógio, de cuco doce, em que cada elemento da corte, da plebe, e até do clero, sabe precisamente que ingrediente atribuir a casa ocasião.

Após um extenso interrogatório, presidido pelos praças Chip e Chop, com mania de saborosos mas que no fim não passam de um derivado de vacas magras, concluiu-se que o Sr. Farinha não foi roubado, mas sim sequestrado!

- E os bolos tenebrosamente aromáticos de deixar água na boca?!
- E as bolachinhas de círculos perfeitos e padrões apetitosos?!

Todos estavam em choque porque sem a farinha nada é possível. Sem o seu toque de mestre culinário, tudo fica sem sabor, sem graça, sem magia!

- A minha barriga não vai parar de rosnar como uma máquina de lavar entupida! - gemeu dramaticamente a Miss Crocante, antecipando o fim da calorosa e amistosa crocantice do seu ser.

Numa odisseia imprevisível por vales de lambarices, decidiram todos, de mãos pegajosamente açucaradas, procurar o elemento que lhes faltava. Deu-se início à busca do Sr. Farinha.

Thursday, October 21, 2010

Vencer

 
 
Por ser um dos mais importantes actos humanos, decidi divagar, ligeiramente, sobre o conceito de vencer.
Para os menos atentos, vencer limita-se ao rotineiro ritual de atribuir medalhas, de matéria circular, inodora e ornamental sobre o pescoço calejado de congratulados de um qualquer feito, por menos insignificante que seja.
Só ganhei uma medalha na vida, mas para mim não passa de um objecto. Prefiro triunfar no anfiteatro do amor, aquele sentimento tenebroso, Adamastor, “fofinho” e pateticamente certo.
Tropeço no eterno abraço da tua simpatia e no infinito beijo do teu cheiro. Percorro temporais de solidão, longe de ti, sabendo que as saudades e a certeza evitarão que o meu peito expluda com o vazio de não te ter. A minha memória fotográfica de cada traço do teu rosto perplexo e de cada linha acentuada do teu corpo aumentam a fome de te devorar platonicamente no encalce do teu amor.
Sou exposto pela criação do décimo mês do vigésimo sétimo dia de Escorpião, cujo veneno doce perdura na minha alma alimentada pelo teu riso heterogéneo, angelical e sarcasticamente escaldante. Procuro nos aromas dos sentidos um rasto, por mais escasso que seja, do nosso faro.
Aguardo-te como quem sabe que um dia alcançará o pódio da vida.
Sem medalhas. Sem louros. Sem pódio.
Tudo menos a tua ausência.