Monday, March 19, 2007

Mutação

Estou preso por um fio. Sinto que tudo que um dia foi lógico e racional no meu pequeno ecossistema, a que chamam vida, não passou de uma lavagem cerebral incumbida desde o dia em que nasci para um planeta controlado por Homo Sapiens disfarçados de Homo Sapiens Sapiens. Já lá vão os tempos em que a minha inocência era o meu maior trunfo, onde o desconhecido inspirava a mais pura ingenuidade. Hoje estou suspenso por uma corrente que trespassa a minha carne e afigura-se uma lança no meu peito. Reconheço nos outros, almas desejosas de libertação deste mundo. O sangue destes podia muito bem ser uma mancha que carregaria como uma medalha de mérito. Olho para metade desta cidade e imagino mil e uma formas de tortura, mil e uma formas de sofrimento alheio, contudo, nada compara com o desgosto que estes me causam com as suas palavras. Contemplo o meu reino de brinquedos de miúdo. O lúdico será sempre o elo de ligação entre a abstenção e a perversão. Tenho pesadelos realmente irreais e acordo com suor frio, a décimas de congelar. Sinto-me um homicida, enquanto endoideço ao som infernal do silêncio espiritual e a ejaculação compulsiva que é a comunicação humana. Tropeço todos os dias em olhares discriminadores e inveja não equilibrada. O Homem é a fonte do Mal, embora transfira para Deus todas as culpas de um ser. Todas as amarguras de uma existência são apontadas a Cristo – de longe o melhor guionista de sempre. Acordo, enfim, no palco da minha vida. A tua pele reconforta-me e tranquiliza o meu corpo. Pouco a pouco ressuscito todos aqueles que, precipitadamente, enterrei na minha mente. Volto à racionalidade, se é que há algo de racional na mente de um pobre apaixonado.

1 comment:

Sunshine said...

Calma amigo... respira fundo e tranquiliza a tua alma. Não deixes que o mundo exterior manche a tua alma, és e sempre serás o dono da tua perspectiva.